Sua importância reside no fato de que ela aborda questões doutrinárias que são cruciais para os problemas contemporâneos. Qualquer líder, estudioso ou cristão leigo que quiser entender a dinâmica de funcionamento de uma igreja, deve consultar a primeira epístola de Paulo aos Coríntios. A amostragem recolhida da igreja coríntia é suficiente para uma ampla visão dos problemas e virtudes de uma comunidade cristã. Por exemplo, pelo que se conhece daquela igreja, em virtude – principalmente dos escândalos –, a epístola inicia de maneira aparentemente paradoxal, pois Paulo se reporta aos seus membros chamando-os de “santos” (1.2). Como podem ser “santos” se viviam em uma profunda letargia e inércia em relação ao pecado? A idéia não é que eles “santificam-se” por algum procedimento ascético ulterior e assim passam a ser considerados. Ocorre justamente o contrário: pelo fato de eles “serem santos” – posicionalmente – isto é, “santificados em Cristo” devem, conforme Efésios 4.1 andar dignos “da vocação [posição em que se encontram] com que foram chamados”. Em outras palavras, não é ter vida santa para se tornar santo, mas por ser santo é que deve viver uma vida santa! Como o momento em que vivemos é de polarização, devemos nos cuidar com os dualismos – assim como a igreja de Corinto – e vivermos sob a orientação da Palavra de Deus, fazendo (cf. 1 Co 16.14; ARA) todas as coisas com amor.
2 – Por que a igreja de Corinto era considerada “fervorosa” mas não espiritual? Qual a diferença entre fervor e espiritualidade?
A prova de que uma igreja é espiritualmente sadia, não é o número de dons carismáticos que os seus membros possui, mas a maneira com que ela lida com o problema do pecado, cultiva o fruto do Espírito e vivencia a comunhão e amor cristãos. Infelizmente, não é possível identificar esta postura da igreja coríntia. A lassidão com o erro, prova que não havia, de fato, espiritualidade. Pois é possível ser fervoroso e carnal, mas o mesmo não ocorre com a espiritualidade.As expressões de alegria e as manifestações do Espírito (que ainda é preciso averiguar se procedem mesmo do Espírito, ou se são apenas atitudes mecânicas, emocionalistas e habituais!), podem ser meramente circunstanciais, fruto do momento, do embalo coletivo. Se a espiritualidade for aferida apenas por tais manifestações externas, torna-se praticamente impossível distinguir fervor de espiritualidade, pois ─ neste sentido ─ é tênue e limítrofe a linha que as separam. Pelo que se entende do texto de Romanos 12.11, o fervor, devidamente orientado e dirigido, é importante, pois forma uma “combinação de disciplina pessoal (lit., ‘com zelo, não indolente’) com o poder do Espírito Santo (cf. At 1.8; 1 Ts 5.19)” (Comentário Bíblico Pentecostal, CPAD, p.896). Porém, não se pode dizer que uma pessoa com um temperamento mais comedido que outra, não seja fervorosa, no sentido paulino ou bíblico. A facilidade com que uma pessoa menos formal e aberta tem de manifestar-se publicamente, não pode ser interpretada como intimidade com Deus em detrimento do indivíduo que, por natureza, é moderado. Por outro lado, a pessoa recatada, não deve acusar a espontaneidade do seu irmão que é mais eufórico. O ponto que define ambos como “espirituais” são as suas obras e frutos. Elas demonstram se são salvos e, conseqüentemente, transformados pelo Espírito de Deus.A verdadeira espiritualidade – definida por Paulo – em Romanos 12.1 é a entrega plena do ser (espírito, alma e corpo). É a certeza de que tudo que se faz o é para Deus sob a perspectiva da adoração consciente em todas as coisas, mesmo naquelas aparentemente sem importância alguma.Aduz-se, portanto, que a verdadeira espiritualidade não é estanque, compartimentada, para ser vivida apenas numa dimensão. Espiritualidade que se expressa apenas nos aparentes limites do culto coletivo é hipocrisia. A verdadeira espiritualidade é também demonstrada por Paulo, na própria primeira epístola aos Coríntios, quando ele diz no capítulo 10, versículo 31: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”.
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